Protetores solares podem ser potencialmente prejudiciais à vida marinha

15 de janeiro de 2020

O Arquipélago de Palau, país da Oceania, é o primeiro a banir o uso de protetores solares que são prejudiciais à vida marinha, e principalmente aos corais. Palau é formado por um recife de corais parcialmente submersos e é considerado patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

Apesar da população ser formada por apenas de 20 mil pessoas, espalhadas por dezenas de ilhas, o País recebe mais de 120 mil turistas ao ano.

Em 2018 foi anunciado que até 2020 seriam vetados os protetores solares que tivessem qualquer uma das 10 substâncias - Oxybenzona (benzofenona-3), Etilparabeno, Octinoxato (metoxicinamato de octila), Butilparabeno, Octocrileno, Metilbenzilideno cânfora, Benzilparabeno, Triclosano, Metilparabeno e Phenoxyethano.

A Bióloga e Dra. Camila Martins, professora da Universidade Federal do Rio Grande comenta que na mesma linha, o Havaí, nos Estados Unidos, anunciou que filtros solares serão banidos em 2021. “Protetores solares são, de fato, frequentemente usados para proteger a pele de seres humanos e inúmeros outros objetos, tais como polímeros plásticos, adesivos, tintas e borrachas, da degradação por raios UV. A contaminação marinha por filtros UV se dá pelo uso recreativo de praias e lagoas, e pelo despejo de efluentes de águas residuais no mar”.

Ela ressalta que a questão do despejo de efluentes é ainda agravada pela ineficiência de remoção desses compostos nas estações de tratamento de esgoto. Adicionalmente, a lipofilicidade e baixa degradabilidade fazem com que a presença dos ingredientes de protetores solares no meio ambiente seja ainda mais alarmante do ponto de vista ecotoxicológico.
De acordo com Camila, os 10 componentes de filtros solares da lista entram na classe dos contaminantes emergentes, que são assim classificados, não pelo uso recente por seres humanos, mas por serem potenciais poluentes e atualmente não controlados mas que, no entanto, podem se tornar candidatos para legislações futuras dependendo de pesquisas sobre a toxicidade para os ecossistemas e risco para saúde humana.

Dentre as substâncias está a Oxibenzona, também conhecida como Benzofenona-3. Estudos realizados no Rio Grande do Sul pelo grupo de pesquisa Ecobiotox, liderados pela professora Camila Martins, mostraram que a Oxibenzona, em concentração ambientalmente relevante, altera o sistema antioxidante de outro organismo calcificador, o marisco branco Amariladema mactroides. Adicionalmente, a mesma equipe juntamente com colaboradores da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP, campus Baixada Santista, observaram que o composto reduz a viabilidade de Hemócitos (células hemolinfáticas /sanguíneas) do mexilhão Perna perna e que esta situação é agravada com a redução do pH, associando, portanto, o efeito da contaminação por Oxibenzona com o processo de acidificação dos oceanos, previsto pelo IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Porém, estes dados ainda não foram publicados.

Outra substância que faz parte da lista é o Metilparabeno. O mesmo grupo de pesquisa tem mostrado que este composto é tóxico em concentrações superiores às encontradas em ambientes aquáticos e indicam microcrustáceos como os organismos mais sensíveis. “Porém, é importante salientar que tais achados foram decorrentes de exposição aguda (exposição de curta duração). Talvez a exposição prolongada às baixas concentrações de Metilparabeno, como de fato ocorre no ambiente, pode gerar efeitos similares aos observados em curto prazo. Diante do exposto, uma atenção especial deve ser dada a produtos “mais naturais” ou “menos agressivos” aos ecossistemas e capazes de filtrar os raios UV, como é o caso de óleos naturais a base de sementes e óxido de zinco” afirma Camila.

“Apesar de relativamente recentes, os estudos científicos sobre filtros solares têm demostrado que estes são potenciais poluidores por causarem uma variedade de efeitos adversos aos organismos marinhos, incluindo corais. Os recifes de coral são biologicamente importantes, por serem considerados como os ecossistemas marinhos com a maior biodiversidade”, afirma.

A Bióloga alerta que um estresse ambiental causado pela presença de poluentes pode desfazer a relação simbiótica entre o coral e a zooxantela. Uma vez que o coral esteja sob estresse, ele expulsa a microalga e seu tecido corporal fica transparente, mostrando a cor branca do seu esqueleto. Este fenômeno, segundo Camila, conhecido como branqueamento, tem sido usado como um indicador de ambientes poluídos. “O branqueamento, além de desacelerar o crescimento dos corais, pode levá-los à morte, trazendo prejuízos imensuráveis aos ecossistemas marinhos”, finaliza a Bióloga.